O
apartamento de Lídia era amplo, cheio de luz, carregado de móveis de cor
branca, como se quisesse espantar a escuridão que dominava lá fora. Era um
ponto que sempre iluminava o bairro Pinheiros, em São Paulo. Theo estava
acostumado a dormir com a amiga e sabia de sua esquisitice, mas nunca imaginou
que muito disto tinha a ver com ele. Na realidade, agora, percebendo bem, ele
nunca vira aquele apartamento no escuro. A amiga deveria pagar uma fortuna em
luz.
Estavam
os três sentados no enorme sofá. Lucas e Otávio escorados a janela, observando
a avenida lá embaixo, silenciosa.
—
Começa — falou Theo, olhando ora para Lídia, ora para Riane. —, quando vocês se
conheceram? — E fez um gesto com a mão, indicando-os. — Quero saber de tudo.
—
Deixe que eu fale Lídia — e como ela assentiu, Riane prosseguiu, enquanto se erguia
ficando diante de Theo: —, conheço sua amiga há uns duzentos anos. — Viu que
além de Theo, os dois humanos também haviam resmungado alguma coisa. — Eu sou
um mago e Lídia é uma bruxa.
—
Isto não existe...
Porém
parecia que Theo não tinha muita convicção em suas palavras.
—
Lídia veio para esta dimensão para ficar de olho em você, a meu pedido.
—
Por quê?
Riane
ergueu-se a andar pela sala, inquieto.
—
A cada mil de seus anos, em Astralízia, um Iluminat é gerado para que tome o
lugar daquele que está morrendo. Isto aconteceu há vinte e dois anos.
Theo
sentiu um arrepio de frio percorrer a sua espinha e se encolheu como se
soubesse o que vinha a frente.
—
Há vinte e dois anos você nasceu de uma Estrela. Deveria ter tomado o seu lugar
por direito, mas Luther achou que Astralízia ficaria bem sem um Iluminat e
tentou te destruir. Lídia conseguiu arrebatá-lo trazendo-o para esta dimensão e
ficou de longe, resguardando-o de qualquer mal que pudesse vir de Astralízia.
—
Mas... — questionou Theo, tentando aceitar tudo aquilo. — Você me beijou, como
se me conhecesse.
—
Eu o conheço Theo — Riane começou a se transformar em um antigo namorado de
Theo, deixando este ainda mais confuso. —, e você também me conhece.
Agora
Theodoro estava em pé, irado, voando em direção a Riane.
—
Você sumiu! — rugia, enquanto batia no peito deste. — Eu me desesperei...
Pensei no que havia feito de errado. — Olhou Lídia com os olhos em fogo. — E
você sabia disto tudo e não me disse.
—
Ela não teve culpa. Eu pedi para que não falasse nada. Eu precisei voltar a
Astralízia, pois Luther havia descoberto que você estava nesta dimensão, só não
sabia onde. Você ainda não estava desperto.
—
O que aconteceu quando você completou dezoito anos, Theo.
Theo
olhou para a amiga, ainda irritado.
—
Os pesadelos?
—
Eram ocorrências em Astralízia. — respondeu Riane com calma. — Mesmo aqui, seu
poder ainda está ligado a nossa dimensão e sente e vê tudo que acontece por lá.
—
Eu pensei que estava enlouquecendo.
Riane
tentou abraçar Theo para confortá-lo, este fez um gesto e o enxotou.
—
Eu queria que tivesse sido de outra forma... — tentou Riane se justificar.
Theo
o olhou bastante sério.
—
Estou com raiva de você.
Riane
sorriu. Conhecendo Theo, como ele conhecia, sabia que a raiva logo passaria.
—
Não fica com esse sorriso não. — retrucou Theo fechando a cara.
—
Então...
Todos
olharam para Lucas, que até então, junto a Otávio, apenas escutava.
—
Este Luther está aqui e procurando por ele.
Riane
confirmou com um grunhido, havia se esquecido dos humanos.
—
E com ele... Aquelas coisas?
—
Sim, e outras coisas também.
Otávio
se adiantou e olhando Theo, perguntou:
—
O que é um Iluminat?
Foi
Lídia quem respondeu.
—
O Iluminat é um ser Australino, com grande poder e uma alma pura. — deteve-se
com a risada de Theo. — É ele quem mantem o equilíbrio entre nós, os de
Astralízia, mantendo-nos em igualdade e paz.
—
Era só o que me faltava — rugiu Theo. —, agora sou uma babá de paranormais.
—
Sim, você é! — falou rude Riane, segurando-o pelos ombros. — Assim como um juiz
e executor.
Theo
olhava-o fito nos olhos, com os seus arregalados.
—
Posso interromper?
Todos
olharam Lucas.
—
Eu sei que a conversa está boa. — e apontou pela janela. — Lá embaixo saindo do
rio, temos muitas destas tais coisas a cercar a rua e o prédio. Acho que
descobriram onde Theodoro encontra-se e o vieram pegar.
—
Se eles estão aqui, Luther também está. — retrucou Riane, com os olhos para a
rua e o rio que se estendia ao largo.
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