terça-feira, 3 de abril de 2018

Trecho de Astralízia (continuação)



O apartamento de Lídia era amplo, cheio de luz, carregado de móveis de cor branca, como se quisesse espantar a escuridão que dominava lá fora. Era um ponto que sempre iluminava o bairro Pinheiros, em São Paulo. Theo estava acostumado a dormir com a amiga e sabia de sua esquisitice, mas nunca imaginou que muito disto tinha a ver com ele. Na realidade, agora, percebendo bem, ele nunca vira aquele apartamento no escuro. A amiga deveria pagar uma fortuna em luz.
Estavam os três sentados no enorme sofá. Lucas e Otávio escorados a janela, observando a avenida lá embaixo, silenciosa.
— Começa — falou Theo, olhando ora para Lídia, ora para Riane. —, quando vocês se conheceram? — E fez um gesto com a mão, indicando-os. — Quero saber de tudo.
— Deixe que eu fale Lídia — e como ela assentiu, Riane prosseguiu, enquanto se erguia ficando diante de Theo: —, conheço sua amiga há uns duzentos anos. — Viu que além de Theo, os dois humanos também haviam resmungado alguma coisa. — Eu sou um mago e Lídia é uma bruxa.
— Isto não existe...
Porém parecia que Theo não tinha muita convicção em suas palavras.
— Lídia veio para esta dimensão para ficar de olho em você, a meu pedido.
— Por quê?
Riane ergueu-se a andar pela sala, inquieto.
— A cada mil de seus anos, em Astralízia, um Iluminat é gerado para que tome o lugar daquele que está morrendo. Isto aconteceu há vinte e dois anos.
Theo sentiu um arrepio de frio percorrer a sua espinha e se encolheu como se soubesse o que vinha a frente.
— Há vinte e dois anos você nasceu de uma Estrela. Deveria ter tomado o seu lugar por direito, mas Luther achou que Astralízia ficaria bem sem um Iluminat e tentou te destruir. Lídia conseguiu arrebatá-lo trazendo-o para esta dimensão e ficou de longe, resguardando-o de qualquer mal que pudesse vir de Astralízia.
— Mas... — questionou Theo, tentando aceitar tudo aquilo. — Você me beijou, como se me conhecesse.
— Eu o conheço Theo — Riane começou a se transformar em um antigo namorado de Theo, deixando este ainda mais confuso. —, e você também me conhece.
Agora Theodoro estava em pé, irado, voando em direção a Riane.
— Você sumiu! — rugia, enquanto batia no peito deste. — Eu me desesperei... Pensei no que havia feito de errado. — Olhou Lídia com os olhos em fogo. — E você sabia disto tudo e não me disse.
— Ela não teve culpa. Eu pedi para que não falasse nada. Eu precisei voltar a Astralízia, pois Luther havia descoberto que você estava nesta dimensão, só não sabia onde. Você ainda não estava desperto.
— O que aconteceu quando você completou dezoito anos, Theo.
Theo olhou para a amiga, ainda irritado.
— Os pesadelos?
— Eram ocorrências em Astralízia. — respondeu Riane com calma. — Mesmo aqui, seu poder ainda está ligado a nossa dimensão e sente e vê tudo que acontece por lá.
— Eu pensei que estava enlouquecendo.
Riane tentou abraçar Theo para confortá-lo, este fez um gesto e o enxotou.
— Eu queria que tivesse sido de outra forma... — tentou Riane se justificar.
Theo o olhou bastante sério.
— Estou com raiva de você.
Riane sorriu. Conhecendo Theo, como ele conhecia, sabia que a raiva logo passaria.
— Não fica com esse sorriso não. — retrucou Theo fechando a cara.
— Então...
Todos olharam para Lucas, que até então, junto a Otávio, apenas escutava.
— Este Luther está aqui e procurando por ele.
Riane confirmou com um grunhido, havia se esquecido dos humanos.
— E com ele... Aquelas coisas?
— Sim, e outras coisas também.
Otávio se adiantou e olhando Theo, perguntou:
— O que é um Iluminat?
Foi Lídia quem respondeu.
— O Iluminat é um ser Australino, com grande poder e uma alma pura. — deteve-se com a risada de Theo. — É ele quem mantem o equilíbrio entre nós, os de Astralízia, mantendo-nos em igualdade e paz.
— Era só o que me faltava — rugiu Theo. —, agora sou uma babá de paranormais.
— Sim, você é! — falou rude Riane, segurando-o pelos ombros. — Assim como um juiz e executor.
Theo olhava-o fito nos olhos, com os seus arregalados.
— Posso interromper?
Todos olharam Lucas.
— Eu sei que a conversa está boa. — e apontou pela janela. — Lá embaixo saindo do rio, temos muitas destas tais coisas a cercar a rua e o prédio. Acho que descobriram onde Theodoro encontra-se e o vieram pegar.
— Se eles estão aqui, Luther também está. — retrucou Riane, com os olhos para a rua e o rio que se estendia ao largo.

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