Finalização do conto Astralízia.
Espero que tenham gostado!
Quando
Luther invadiu o apartamento de Lídia, anulou a magia. Olhou ao redor, fazendo
um gesto com a mão, detendo os seus acólitos. Percebeu de cara que o Iluminat
não estava ali
e que Riane, junto com a bruxa, o havia levado para Astralízia. “Tempo perdido.
Vou destruí-lo!”. Fez um sinal com a mão e, em instantes, encontrava-se em um
extenso salão, ordenado por estátuas de seres que nem ele mesmo conhecia.
Colunas que apoiavam o imenso teto de um material que ele nunca vira que apesar
de indestrutível, mantinha um ar de fragilidade. A luz do dia e da noite
adentrava a cúpula, iluminando todo o prédio, pois era isto que Pincelat era,
um enorme salão. Acima, sobre uma elevação, existia uma poltrona feita de
raízes entrelaçadas, segurando um tosco assento de madeira. Luther aproximou-se
do trono, o que foi imediatamente repelido. Ele sabia que enquanto o Iluminat
estivesse vivo, não poderia ter tudo o que queria.
—
Isto está para ser meu.
Entretanto,
não havia ninguém para escutá-lo, sequer respondê-lo.
Sorriu
feroz enquanto virava-se e olhava para a porta sempre aberta de Pincelat. Seu adversário
acabara de entrar.
Theo
deteve-se à imensa porta, olhando para trás, percebendo os asseclas de Luther
bem afastados, receosos não dele, e sim da energia que o lugar emanava.
—
Eles apenas não podem aguentar a força de Pincelat. — explicou Lídia, avançando
e com isto, fazendo com que Riane e Theo a seguissem. — Estão confusos, sem o
domínio intensivo de Luther.
Theo
não entendia, e sabia aquela não era hora de explicações. Devia se sentir
satisfeito por não ter que enfrentá-los, pelo menos por agora. E, apesar de
sentir um frio intenso na barriga, avançou por aquele mundo frio e branco,
percebendo a maldade tentar envolvê-lo e influenciá-lo. Balançou a cabeça
sorrindo. Ele nunca fora do mau e não seria naquelas circunstâncias que se
voltaria contra tudo que acreditava. Daria combate a Luther com toda força que
sabia possuir.
—
Se você se entregar pacificamente, eu o mato sem lhe causar dor.
Theo
parou pasmado com o disparate do que Luther havia lhe dito. Chegou mesmo a ter
vontade de rir de suas palavras, controlou-se, apenas olhando-o com
curiosidade. Não parecia grande coisa... Não ali, sem os seus bichinhos de
estimação. Ficou a pensar porque ele estava tão apavorado com Luther na praça.
—
Não se descuide. — sussurrou Riane ao seu ouvido, como se percebesse o que lhe ia
ao intimo.
Theo
concordou com um sutil meneio de cabeça e um sorriso. Então, avançou, sem uma
única palavra, voltando a se deter, desta vez, bem próximo ao seu inimigo.
—
Se você se entregar... Eu não o mato — disse num trocadilho como o que antes
escutara. — e talvez eu lhe dê a oportunidade de pagar por seus pecados. —
Espantou-se, nem parecia ele a falar. De onde vinha toda esta coragem!
Ouviu
Luther rir, fazendo com que erguesse os olhos e o que viu o assustou. Eram duas
chamas vivas, vermelhas, a irradiarem muita raiva, mesmo ódio. Havia força
naquilo. Teve ímpeto de recuar e ladeado por Riane e Lídia a lhe darem forças,
controlou-se, avançando mais alguns passos. Esperava que sua energia surgisse
de repente, como antes havia acontecido e desse cabo daquele monstro, mas não
tinha certeza de nada.
—
Lembre-se — voltou Riane a lhe sussurrar ao ouvido. —, você tem a força de Pincelat
ao seu lado.
Olhou
Riane com carinho, enchendo-se de coragem.
“Depende
de mim tudo isto ter um fim”. E com este pensamento, avançou, correndo na
direção de seu adversário, seguido pelos dois. Ao mesmo tempo, Luther erguendo
os braços lançava sobre eles, saindo de suas mãos, raios avermelhados que ao
alcançá-los, jogara Lídia e Riane para trás, separando-os. Theo sentiu-se
atravessar por milhares de agulhas, perdendo vitalidade. Porem, não se abrandou,
puxando o resto de força que ainda tinha, jogou-se sobre Luther, caindo os dois
ao chão.
A
briga, entre os dois, ostentava a força de duas potências. Não havia meio
termo. Theo correspondia à altura da ofensa, deixando Luther tão ferido quanto
ele estava. Mais afastados, Lídia e Riane tentavam ficar de pé e avançar sobre
os dois, sentindo suas forças se esvaírem a cada passo que davam. Em um momento
mais sortudo Theo conseguiu canalizar toda a sua energia, direcionando-a direto
ao peito de seu adversário, lançando-o para longe. Luther ficou esparramado perto
do singelo trono, parecendo morto ou pelo menos, inconsciente.
Rapidamente,
Riane, agora solto, estendeu uma espada a Theo, indicando-lhe o corpo estendido
de seu adversário.
—
Trespasse seu coração! Rápido!
Theo
avançou sobre Luther e antes de descer a lâmina fria e reluzente, olhou com
seriedade ao homem inconsciente aos seus pés. Balançando a cabeça, ergueu o
punho da espada com as duas mãos e estava pronto a descê-la com força e decisão,
quando percebeu o que teria que fazer. Matar não seria fácil e sua indecisão,
apenas momentânea, deixou a oportunidade passar.
Luther
abrira os olhos e, num rompante, agarrou a espada que Theo tinha apontada em
direção ao seu coração e sem se preocupar com o sangue que escorria de sua mão
cortada, empurrou Theo com força e magia, fazendo com que o Iluminat fosse
lançado longe.
Vendo
a reação de Luther, tanto Riane como Lídia avançaram, tentando impedi-lo de
ferir Theo, desgraçadamente, a força deste era por demais poderosa e se
sentiram, mais uma vez, tolhidos em seu intento. Sem que tivesse qualquer
empecilho, Luther agarrou Theo pelo pescoço e o ergueu com facilidade, enquanto
seu adversário, sentindo-se sufocado, tentava se desvencilhar, sem sucesso.
—
Sua morte vai ser rápida e sem dor — Ouvia Theo, com o rosto arroxeado e
prestes a desfalecer. —, mas a de seus amigos — e, com isto, olhou aos dois que
estavam paralisados, apenas assistindo, sem que pudessem fazer nada. — farei
questão de levar um tempo bem longo e doloroso, com tudo que almejo para eles.
Theo
estremeceu e tentou dar uma olhada aos dois, mesmo sabendo que seria impossível.
Além de contido, seus pés balançavam no ar, pois Luther era bem mais alto e
forte do que ele. Sentia suas lágrimas escorrer por seu rosto e molhar o braço
estendido de Luther.
—
Riane me traiu. — continuava Luther, como se estivesse a se justificar. — Ele
era meu braço direito. Usou-me para salvá-lo de conluio com esta bruxa! Esteve
do seu lado desde sempre. — e, enquanto esbravejava enfurecido, Luther sacudia
o corpo de Theo, como se este fosse um boneco. — Não posso ter traidores ao meu
lado... Ele será um exemplo para todos.
Theo
fixou seus olhos atordoados e brilhantes pelas lágrimas, nos olhos de Luther. Estava,
além de apavorado, com muita raiva do que ouvia daquele facínora. Como ele
ousara dizer que torturaria aos dois. Faria de Riane um exemplo! Seu Riane!
Esticou-se, erguendo suas mãos e como Luther, fechando-as no pescoço deste.
Queria revidar, infelizmente, estava muito fraco. E o pior, Luther ria
estrondosamente de sua frágil tentativa. Tentou se soltar mais uma vez, mas as
mãos de seu adversário pareciam coladas nele.
—
“Lute! Você é muito mais do que Luther...”.
Ouviu
de repente em sua mente e soube que era Riane a lhe dizer isto.
—
“Deixe despertar a sua magia, Theo”.
Ele
bem que queria, contudo não conseguia. Na verdade, não sentia nada. Não era
como na praça, aquilo fora diferente, ela viera do nada e, em um milésimo de
segundos, destruíra seus inimigos. Fora algo descontrolado.
—
“Algo deve ter despertado a magia”. — começou a lembrar-se do que acontecera. —
“Eu estava feliz pela chegada de Lídia e então...”. — Devia ter sido isso, ele calmo.
Fechou
seus olhos e controlou seu medo, ao mesmo tempo em que sentia que uma força o
envolvia de dentro para fora. Seu corpo parecia enorme, ao ponto de não mais
sentir as mãos de Luther em seu pescoço e foi então que abriu os olhos, encarando-o.
Este estava afastado, pálido, escorando-se à parede e com os olhos arregalados
em sua direção.
Surpreso,
Theo ergueu sua mão direita e espantou-se, não se alarmando com a enorme pata,
cheias de garras. Era uma fera enorme e sua boca carregada de afiados dentes, e
estava flutuando diante de Luther.
— “Esquisito”. — foi o que pensou, divertido, compreendendo o que tinha que fazer,
fechou suas poderosas garras sobre seu inimigo e sem pensar, apenas rasgou a
garganta de Luther, fazendo com que este fosse ao chão, com a aparência de
morto.
—
A espada! — Gritara-lhe Riane, sem receio de sua aparência, aproximando-se aos
tropeções, pois os dois, ele e Lídia, estavam bem feridos.
Theo
o olhou por um momento e depois, sabendo que teria que ter mãos para pegar a
espada, voltou a sua forma humana. Sem deixar de prestar a atenção no corpo de
Luther, agora com a poderosa arma que vibrava em sua mão, avançou para o seu
inimigo e, com os olhos fixos no peito dele, fincou a espada, atravessando
músculos e o coração. Ao mesmo tempo, de suas mãos, filamentos de luz seguiam o
mesmo caminho, penetrando o corpo agora, realmente, sem vida de Luther. Não
tinha nenhuma ideia do que estava acontecendo. Exausto, largou a espada fincada
em Luther e arrastou-se até o trono, se jogando nele.
—
Acabou?
Riane
e Lídia que examinavam o corpo de Luther o olharam.
—
Sim. — respondeu Riane a rir.
Theo
o olhou cismado.
—
O que houve? — perguntou aborrecido.
Riane
indicou o lugar em que ele estava sentado.
—
O que tem? É uma cadeira... Não é?
Lídia
aproximou-se.
—
É um trono... O seu trono, Theo.
Theo
olhou aos dois e fez um gesto vago com a mão.
—
Estou muito cansado para discutir...
Na
verdade, os três estavam.
—
E agora?
Riane
adiantando-se, ajoelhando-se em frente a Theo e apoiando-se nos joelhos deste,
respondeu:
—
Vamos para casa.
Theo
abriu um lindo sorriso.
⁂⁂⁂
Lucas
sacudiu Otávio com o cotovelo e quase fez com que esse derrubasse o seu café.
—
Veja! Alguém acendeu a luz...
Otávio
pegou o celular, ligando para o seu apoio.
—
Ouviu algo?
—
É só a empregada. — respondeu seu apoio.
Isto
queria dizer que o turno dos dois estava findando.
Ajeitaram-se
no carro, pois estavam esparramados e Lucas, assim que viu a sua troca despontar
no inicio da rua, ligou o carro, saindo, agradecendo por uma noite tranquila,
apesar de enfadonha. Ao descer pela rua principal, deu com dois rapazes perto
do ponto de ônibus, abraçados, apenas o olhando. Estremeceu, sabia que os
conhecia, não de onde. Teve ímpeto de parar, mas Otávio resmungou alguma coisa
e ele desviou a atenção. Quando olhou pelo retrovisor em busca dos rapazes,
percebeu que eles haviam sumido.
—
Eles não se lembram de nada...
Riane
concordou.
—
É o melhor para eles.
—
Mas Lídia não precisava ter apagado a memória de meus amigos. — resmungou Theo,
aborrecido.
—
Ela já explicou a você a razão.
—
Eu sei, mas não gosto. — respondeu fazendo um muxoxo.
Riane
riu divertido, depois enlaçou Theo pelo pescoço e antes que este reagisse,
deu-lhe um beijo na boca de tirar o folego, mesclando suas línguas, já que Theo
não se fez de rogado, correspondendo ao carinho com o mesmo desejo.
Quando
sentiram faltar o ar, se desligaram.
—
Vamos?
Theo
sorriu e os dois de mãos dadas desceram a rua até desaparecerem em meio aos
primeiros raios do sol nascente.
Fim.