sábado, 28 de abril de 2018

Astralízia.

Finalização do conto Astralízia.
Espero que tenham gostado!



Quando Luther invadiu o apartamento de Lídia, anulou a magia. Olhou ao redor, fazendo um gesto com a mão, detendo os seus acólitos. Percebeu de cara que o Iluminat não estava ali e que Riane, junto com a bruxa, o havia levado para Astralízia. “Tempo perdido. Vou destruí-lo!”. Fez um sinal com a mão e, em instantes, encontrava-se em um extenso salão, ordenado por estátuas de seres que nem ele mesmo conhecia. Colunas que apoiavam o imenso teto de um material que ele nunca vira que apesar de indestrutível, mantinha um ar de fragilidade. A luz do dia e da noite adentrava a cúpula, iluminando todo o prédio, pois era isto que Pincelat era, um enorme salão. Acima, sobre uma elevação, existia uma poltrona feita de raízes entrelaçadas, segurando um tosco assento de madeira. Luther aproximou-se do trono, o que foi imediatamente repelido. Ele sabia que enquanto o Iluminat estivesse vivo, não poderia ter tudo o que queria.
— Isto está para ser meu.
Entretanto, não havia ninguém para escutá-lo, sequer respondê-lo.
Sorriu feroz enquanto virava-se e olhava para a porta sempre aberta de Pincelat. Seu adversário acabara de entrar.
Theo deteve-se à imensa porta, olhando para trás, percebendo os asseclas de Luther bem afastados, receosos não dele, e sim da energia que o lugar emanava.
— Eles apenas não podem aguentar a força de Pincelat. — explicou Lídia, avançando e com isto, fazendo com que Riane e Theo a seguissem. — Estão confusos, sem o domínio intensivo de Luther.
Theo não entendia, e sabia aquela não era hora de explicações. Devia se sentir satisfeito por não ter que enfrentá-los, pelo menos por agora. E, apesar de sentir um frio intenso na barriga, avançou por aquele mundo frio e branco, percebendo a maldade tentar envolvê-lo e influenciá-lo. Balançou a cabeça sorrindo. Ele nunca fora do mau e não seria naquelas circunstâncias que se voltaria contra tudo que acreditava. Daria combate a Luther com toda força que sabia possuir.
— Se você se entregar pacificamente, eu o mato sem lhe causar dor.
Theo parou pasmado com o disparate do que Luther havia lhe dito. Chegou mesmo a ter vontade de rir de suas palavras, controlou-se, apenas olhando-o com curiosidade. Não parecia grande coisa... Não ali, sem os seus bichinhos de estimação. Ficou a pensar porque ele estava tão apavorado com Luther na praça.
— Não se descuide. — sussurrou Riane ao seu ouvido, como se percebesse o que lhe ia ao intimo.
Theo concordou com um sutil meneio de cabeça e um sorriso. Então, avançou, sem uma única palavra, voltando a se deter, desta vez, bem próximo ao seu inimigo.
— Se você se entregar... Eu não o mato — disse num trocadilho como o que antes escutara. — e talvez eu lhe dê a oportunidade de pagar por seus pecados. — Espantou-se, nem parecia ele a falar. De onde vinha toda esta coragem!
Ouviu Luther rir, fazendo com que erguesse os olhos e o que viu o assustou. Eram duas chamas vivas, vermelhas, a irradiarem muita raiva, mesmo ódio. Havia força naquilo. Teve ímpeto de recuar e ladeado por Riane e Lídia a lhe darem forças, controlou-se, avançando mais alguns passos. Esperava que sua energia surgisse de repente, como antes havia acontecido e desse cabo daquele monstro, mas não tinha certeza de nada.
— Lembre-se — voltou Riane a lhe sussurrar ao ouvido. —, você tem a força de Pincelat ao seu lado.
Olhou Riane com carinho, enchendo-se de coragem.
“Depende de mim tudo isto ter um fim”. E com este pensamento, avançou, correndo na direção de seu adversário, seguido pelos dois. Ao mesmo tempo, Luther erguendo os braços lançava sobre eles, saindo de suas mãos, raios avermelhados que ao alcançá-los, jogara Lídia e Riane para trás, separando-os. Theo sentiu-se atravessar por milhares de agulhas, perdendo vitalidade. Porem, não se abrandou, puxando o resto de força que ainda tinha, jogou-se sobre Luther, caindo os dois ao chão.  
A briga, entre os dois, ostentava a força de duas potências. Não havia meio termo. Theo correspondia à altura da ofensa, deixando Luther tão ferido quanto ele estava. Mais afastados, Lídia e Riane tentavam ficar de pé e avançar sobre os dois, sentindo suas forças se esvaírem a cada passo que davam. Em um momento mais sortudo Theo conseguiu canalizar toda a sua energia, direcionando-a direto ao peito de seu adversário, lançando-o para longe. Luther ficou esparramado perto do singelo trono, parecendo morto ou pelo menos, inconsciente.

Rapidamente, Riane, agora solto, estendeu uma espada a Theo, indicando-lhe o corpo estendido de seu adversário.
— Trespasse seu coração! Rápido!
Theo avançou sobre Luther e antes de descer a lâmina fria e reluzente, olhou com seriedade ao homem inconsciente aos seus pés. Balançando a cabeça, ergueu o punho da espada com as duas mãos e estava pronto a descê-la com força e decisão, quando percebeu o que teria que fazer. Matar não seria fácil e sua indecisão, apenas momentânea, deixou a oportunidade passar.
Luther abrira os olhos e, num rompante, agarrou a espada que Theo tinha apontada em direção ao seu coração e sem se preocupar com o sangue que escorria de sua mão cortada, empurrou Theo com força e magia, fazendo com que o Iluminat fosse lançado longe.
Vendo a reação de Luther, tanto Riane como Lídia avançaram, tentando impedi-lo de ferir Theo, desgraçadamente, a força deste era por demais poderosa e se sentiram, mais uma vez, tolhidos em seu intento. Sem que tivesse qualquer empecilho, Luther agarrou Theo pelo pescoço e o ergueu com facilidade, enquanto seu adversário, sentindo-se sufocado, tentava se desvencilhar, sem sucesso.
— Sua morte vai ser rápida e sem dor — Ouvia Theo, com o rosto arroxeado e prestes a desfalecer. —, mas a de seus amigos — e, com isto, olhou aos dois que estavam paralisados, apenas assistindo, sem que pudessem fazer nada. — farei questão de levar um tempo bem longo e doloroso, com tudo que almejo para eles.
Theo estremeceu e tentou dar uma olhada aos dois, mesmo sabendo que seria impossível. Além de contido, seus pés balançavam no ar, pois Luther era bem mais alto e forte do que ele. Sentia suas lágrimas escorrer por seu rosto e molhar o braço estendido de Luther.
— Riane me traiu. — continuava Luther, como se estivesse a se justificar. — Ele era meu braço direito. Usou-me para salvá-lo de conluio com esta bruxa! Esteve do seu lado desde sempre. — e, enquanto esbravejava enfurecido, Luther sacudia o corpo de Theo, como se este fosse um boneco. — Não posso ter traidores ao meu lado... Ele será um exemplo para todos.
Theo fixou seus olhos atordoados e brilhantes pelas lágrimas, nos olhos de Luther. Estava, além de apavorado, com muita raiva do que ouvia daquele facínora. Como ele ousara dizer que torturaria aos dois. Faria de Riane um exemplo! Seu Riane! Esticou-se, erguendo suas mãos e como Luther, fechando-as no pescoço deste. Queria revidar, infelizmente, estava muito fraco. E o pior, Luther ria estrondosamente de sua frágil tentativa. Tentou se soltar mais uma vez, mas as mãos de seu adversário pareciam coladas nele.
— “Lute! Você é muito mais do que Luther...”.
Ouviu de repente em sua mente e soube que era Riane a lhe dizer isto.
— “Deixe despertar a sua magia, Theo”.
Ele bem que queria, contudo não conseguia. Na verdade, não sentia nada. Não era como na praça, aquilo fora diferente, ela viera do nada e, em um milésimo de segundos, destruíra seus inimigos. Fora algo descontrolado.
— “Algo deve ter despertado a magia”. — começou a lembrar-se do que acontecera. — “Eu estava feliz pela chegada de Lídia e então...”.  — Devia ter sido isso, ele calmo.
Fechou seus olhos e controlou seu medo, ao mesmo tempo em que sentia que uma força o envolvia de dentro para fora. Seu corpo parecia enorme, ao ponto de não mais sentir as mãos de Luther em seu pescoço e foi então que abriu os olhos, encarando-o. Este estava afastado, pálido, escorando-se à parede e com os olhos arregalados em sua direção.
Surpreso, Theo ergueu sua mão direita e espantou-se, não se alarmando com a enorme pata, cheias de garras. Era uma fera enorme e sua boca carregada de afiados dentes, e estava flutuando diante de Luther.
 “Esquisito”.  foi o que pensou, divertido, compreendendo o que tinha que fazer, fechou suas poderosas garras sobre seu inimigo e sem pensar, apenas rasgou a garganta de Luther, fazendo com que este fosse ao chão, com a aparência de morto.
— A espada! — Gritara-lhe Riane, sem receio de sua aparência, aproximando-se aos tropeções, pois os dois, ele e Lídia, estavam bem feridos.
Theo o olhou por um momento e depois, sabendo que teria que ter mãos para pegar a espada, voltou a sua forma humana. Sem deixar de prestar a atenção no corpo de Luther, agora com a poderosa arma que vibrava em sua mão, avançou para o seu inimigo e, com os olhos fixos no peito dele, fincou a espada, atravessando músculos e o coração. Ao mesmo tempo, de suas mãos, filamentos de luz seguiam o mesmo caminho, penetrando o corpo agora, realmente, sem vida de Luther. Não tinha nenhuma ideia do que estava acontecendo. Exausto, largou a espada fincada em Luther e arrastou-se até o trono, se jogando nele.
— Acabou?
Riane e Lídia que examinavam o corpo de Luther o olharam.
— Sim. — respondeu Riane a rir.
Theo o olhou cismado.
— O que houve? — perguntou aborrecido.
Riane indicou o lugar em que ele estava sentado.
— O que tem? É uma cadeira... Não é?
Lídia aproximou-se.
— É um trono... O seu trono, Theo.
Theo olhou aos dois e fez um gesto vago com a mão.
— Estou muito cansado para discutir...
Na verdade, os três estavam.
— E agora?
Riane adiantando-se, ajoelhando-se em frente a Theo e apoiando-se nos joelhos deste, respondeu:
— Vamos para casa.
Theo abriu um lindo sorriso.

⁂⁂⁂

Lucas sacudiu Otávio com o cotovelo e quase fez com que esse derrubasse o seu café.
— Veja! Alguém acendeu a luz...
Otávio pegou o celular, ligando para o seu apoio.
— Ouviu algo?
— É só a empregada. — respondeu seu apoio.
Isto queria dizer que o turno dos dois estava findando.
Ajeitaram-se no carro, pois estavam esparramados e Lucas, assim que viu a sua troca despontar no inicio da rua, ligou o carro, saindo, agradecendo por uma noite tranquila, apesar de enfadonha. Ao descer pela rua principal, deu com dois rapazes perto do ponto de ônibus, abraçados, apenas o olhando. Estremeceu, sabia que os conhecia, não de onde. Teve ímpeto de parar, mas Otávio resmungou alguma coisa e ele desviou a atenção. Quando olhou pelo retrovisor em busca dos rapazes, percebeu que eles haviam sumido.
— Eles não se lembram de nada...
Riane concordou.
— É o melhor para eles.
— Mas Lídia não precisava ter apagado a memória de meus amigos. — resmungou Theo, aborrecido.
— Ela já explicou a você a razão.
— Eu sei, mas não gosto. — respondeu fazendo um muxoxo.
Riane riu divertido, depois enlaçou Theo pelo pescoço e antes que este reagisse, deu-lhe um beijo na boca de tirar o folego, mesclando suas línguas, já que Theo não se fez de rogado, correspondendo ao carinho com o mesmo desejo.
Quando sentiram faltar o ar, se desligaram.
— Vamos?
Theo sorriu e os dois de mãos dadas desceram a rua até desaparecerem em meio aos primeiros raios do sol nascente.
                           
Fim.

                                                           

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