segunda-feira, 26 de março de 2018

Trecho de Astralízia (continuação)




Riane tinha os dois detetives a conversar nos bancos da frente do carro, enquanto vasculhavam a região em busca daquele que ele tinha que encontrar antes de Luther. Estava impaciente, poderia utilizar-se de seus dons. No entanto, isto só colocaria Luther mais próximo a ele. Haviam resolvido, depois de uma longa conversa no apartamento de Lucas, continuar a busca daquele que Riane deveria encontrar. Não haviam entendido, todavia resolveram ajudá-lo. Já estavam encrencados e suspensos, sem salário por um longo mês. Além de terem sido tirados do caso. Nada mais faltava.
Lucas relanceou um olhar para Riane, mas não disse nada. Percebia que o rapaz mantinha toda a sua atenção ao derredor, como se buscasse alguma coisa. Não perguntou. Não entenderia mesmo. De repente, pensou ter vislumbrado algo se deslocar ao lado. Um homem. Sentiu que havia mais do que um homem se esgueirando até a praça.
— Veja! ⸻ E apontou.
Riane estremeceu ao ver o estranho.
— Estão na pista dele. — confirmou a pergunta muda dos dois humanos.
— Então, vamos segui-lo. ⸻ Estavam pronto a isto, quando viram um clarão emergir da praça, seguido de grunhidos de dor e depois, apenas o silêncio. — É ele!
Riane estava eufórico, procurando um meio de sair daquele carro e correr naquela direção.
— Calma...
Viu-se contido pelas mãos de Lucas.
— Vamos todos.
E desceram afoitos. Riane com preocupação e os dois humanos, curiosos, tentando descobrir o que realmente acontecera.

⁂⁂⁂

Theo tinha seus olhos arregalados em direção ao carro de Lídia e naqueles que haviam surgido do nada, tentando cercá-lo. Não havia mais nada, apenas Lídia desacordada e seu carro, agora, torado feito carvão. Ele fizera aquilo! Tinha certeza disto. Aproximou-se da amiga e a ergueu nos braços, espantando-se, já que nunca tinha sido tão forte.
— Enlouqueci de vez... — começou a resmungar, aturdido.
Sentia-se elétrico, diferente. Sabia que isso se dava pelo que tinha acabado de acontecer. Ele só queria entender, alguém que lhe explicasse. Sentou-se no banco e ficou alisando o rosto de sua amiga. Ela estava viva. Ele não a matara como fizera com os outros. Loucura! Começou a perceber que de suas mãos surgiam filamentos brilhantes e penetravam pela pele de Lídia, provavelmente, curando qualquer problema que ele pudesse lhe ter causado. Sentia-se bem, sem medo de feri-la. Instantes depois, Lídia começou a se mexer e a resmungar, até que abriu os olhos e o fitou com receio, mas não medo. Ela o conhecia há anos, nunca teria medo de Theo.
Foi, neste mesmo momento, que Theo deu pela aproximação dos três homens e para o seu espanto, viu que nenhum deles representava qualquer perigo para a sua pessoa. Ajudou Lídia a se erguer e, com ela amparada entre seus braços, foi encontrá-los.
Antes que pudesse abrir a boca para a derradeira pergunta, o mais novo dos três, sem qualquer pudor, jogou-se em seus braços, fazendo com que Theo tivesse que largar Lídia, e o beijou na boca.
Theo ficou um instante perplexo, para depois corresponder ao beijo, sentindo que algo em seu intimo se avivava como fogo líquido. Ele conhecia aquele jovem esquisito.
— Ah!
Os dois se desgrudaram e Theo olhou para Lídia que se encontrava refeita, de olhos furiosos em seu carro.
— O que foi que aconteceu com o meu carro?! — rugiu furiosa.
— Um acidente... — começou Theo.
Ela se virou para ele e apesar dos olhos brilhantes e furiosos, sorriu-lhe, enquanto se aproximava, o abraçando com carinho.
— Você está bem?
Ele ficou olhando surpreso, com a boca aberta, sem dizer nada.
— Acho que sim... — confirmou minutos depois.
Riane que ficara até aquele instante calado, ao lado de Theo, olhou ao redor, percebendo que se encontrava em um lugar propício para emboscada. Suspirando profundamente, ergueu os olhos para Theo e depois, fazendo um sinal para Lídia, falou:
— Precisamos sair daqui.
Theo também achava isto, principalmente, depois de ter visto os seus pesadelos se tornarem reais.
— Vamos todos para o meu apartamento. — decidiu-se Lídia, para espanto de Theo que via a amiga aceitar tudo aquilo assim, tão simplesmente, sem enlouquecer, como ele estava começando a fazer. Entrar em paranoia não seria muito bom naquelas circunstâncias. — Chame seus amigos, Riane.
— Você?! — exclamou Theodoro com os olhos acusadores para Lídia. — Você sabe quem ele é. — Estava ficando cada vez mais descontrolado, e sabia disto. — Como?! Eu...
— Theozinho...
Theo a olhou com os cenhos franzidos, num misto de raiva e confusão.
— Vamos para o meu apartamento e então, iremos explicar tudo.
Ele engoliu sua raiva e apenas concordou com a cabeça.


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