Theo
ficou analisando os estranhos seres que avançavam pela rua e adentravam o
prédio de Lídia. Alguns, inclusive, subindo pelas paredes, literalmente. Ele
então se lembrou da praça e estremeceu. Muitos deles eram iguais aos que ele
presenciara, cercando-o e ficou imaginando aqueles dentes pontiagudos em sua
carne, rasgando-o, destroçando seus ossos. Seu instinto o mandava correr, esconder-se
debaixo de uma cama. Infelizmente, sua razão lhe dizia para ficar, lidar com o
problema. Era a sua única chance de vida. Sem perceber, aproximou-se de Riane,
buscando sua proteção e este, com carinho, o enlaçou pelos ombros,
aconchegando-o próximo ao seu corpo.
—
Como vamos lidar com isto?
Todos
olharam para Otávio que apesar da aparente palidez em seu rosto, mantinha às
mãos um rifle pronto a decepar a primeira cabeça que surgisse muito perto do
janelão de vidro.
—
Eles não podem entrar em meu apartamento. — começou Lídia com seriedade. — A
magia impede que ultrapassem seus limites e se tentarem, serão consumidos por
ela. Apenas Luther tem a força para suplantar a minha luz... E ele não tardará
a aparecer aqui. Temos que ir a Astralízia.
Riane
franziu o cenho e olhou aos dois humanos.
—
E eles?
Lucas
e Otávio o olharam ao mesmo tempo.
—
Eles não sobreviverão em Astralízia.
—
Se ficarmos, teremos o mesmo fim.
Lídia
adiantou-se fazendo com a mão um gesto para acalmar aos três.
—
Posso mandá-los para bem longe daqui. ⸻ E antes que Lucas e Otávio pudessem retorquir
sobre o assunto, desapareceram, deixando um vazio na alma daqueles que haviam
ficado.
—
Eles ficarão bem?
Lídia
não respondeu a Riane e este com um sorriso, não insistiu.
—
Vamos?
Theo
ficou, por instantes, propenso a se beliscar e acordar daquele pesadelo, mas
sabia que estava mais do que acordado. Pensou nos amigos que deixaria. No
emprego que com tanto custo arranjara. Na sua vida costumeira. Tudo parecia tão
confuso e difícil. Estava com medo, e sabia que não podia ficar. Olhou mais uma
vez para aqueles que avançavam sem tréguas, subindo pela parede, voando ao
redor, grasnando terrivelmente. Era uma situação em que ele não deixaria para
trás, pois, provavelmente, em Astralízia haveria muito mais à sua espera. Engoliu
em seco e com os olhos nos dois amigos, concordou.
Antes
que pudesse piscar, foi varrido por um redemoinho luminoso e em segundos, encontrava-se
ladeado por Riane e Lídia, em uma imensidão branca, resplandecente, uma
planície maravilhosa.
—
Seja bem-vindo a Astralízia.
Theo
olhou a amiga, estremecendo. Era lindo e estranho, alguma coisa lhe dizia que naquela
beleza toda, havia muita maldade.
—
E agora? — perguntou, tentando se controlar e agir como adulto. — Que faremos?
—
Vamos enfrentar Luther.
—
Ganhar — completou Riane sério. — ou morrer.
Ninguém
comentou aquelas palavras, ficando apenas a se entreolharem. Theo sabia que não
era o único com um frio crescente em sua espinha. Todos estavam com medo, não
só por eles, também pelo que se transformaria Astralízia se Luther conseguisse
destruir o Iluminat. Portanto, avançaram.
O
silêncio entre os três chegava a ser sufocante, não era por falta de assunto e
sim, pelo receio do que os esperava mais adiante. Principalmente Theo que pouco
ou quase nada conhecia da vida e dos moradores de Astralízia. Os únicos que vira não lhe deram boa impressão.
Na verdade, sentia-se apavorado, sem expectativa de sair vivo daquela confusão.
Quando
seus olhos deram com a razão de estar ali, percebeu a importância de tudo que
passara, não só naqueles dias, e por todos os seus vinte e dois anos. A magnifica
estrutura que se erguia a frente dos três era imponente, suas torres eram
diáfanas, cercada por uma aureola da mais límpida energia. Trazia uma força
interior que Theo podia sentir em seu próprio coração. Lembrava-se vagamente de
tê-la visto em tempos imemoriais. Entretanto, não se parecia com a que bem recordava.
Sabia até mesmo o nome daquele castelo, pois era exatamente isto que ele via.
Um castelo.
—
Pincelat. — grunhiu como se quisesse deixar aquele nome lembrado apenas por
ele. — O que aconteceu?
—
Luther aconteceu.
Theo
olhou Riane, vendo-lhe a raiva, a seriedade em seus olhos.
Astralízia
estava cinza. Onde antes Theo via a luz da lua e das estrelas, havia apenas a
escuridão. Sem falar da sensação que saia do castelo era ruim, impregnando não só
as cercanias, como a própria Astralízia.
—
Temos que destruí-lo.
Riane
e Lídia, surpresos, o olharam. Não parecia Theo a dizer aquilo.
—
Só não sei como fazê-lo...
E,
sem esperar pelos dois, começou a se adiantar em direção a Pincelat.
—
Mas vou descobrir um meio.
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