domingo, 8 de abril de 2018

Trecho de Astralízia.




Theo ficou analisando os estranhos seres que avançavam pela rua e adentravam o prédio de Lídia. Alguns, inclusive, subindo pelas paredes, literalmente. Ele então se lembrou da praça e estremeceu. Muitos deles eram iguais aos que ele presenciara, cercando-o e ficou imaginando aqueles dentes pontiagudos em sua carne, rasgando-o, destroçando seus ossos. Seu instinto o mandava correr, esconder-se debaixo de uma cama. Infelizmente, sua razão lhe dizia para ficar, lidar com o problema. Era a sua única chance de vida. Sem perceber, aproximou-se de Riane, buscando sua proteção e este, com carinho, o enlaçou pelos ombros, aconchegando-o próximo ao seu corpo.
— Como vamos lidar com isto?
Todos olharam para Otávio que apesar da aparente palidez em seu rosto, mantinha às mãos um rifle pronto a decepar a primeira cabeça que surgisse muito perto do janelão de vidro.
— Eles não podem entrar em meu apartamento. — começou Lídia com seriedade. — A magia impede que ultrapassem seus limites e se tentarem, serão consumidos por ela. Apenas Luther tem a força para suplantar a minha luz... E ele não tardará a aparecer aqui. Temos que ir a Astralízia.
Riane franziu o cenho e olhou aos dois humanos.
— E eles?
Lucas e Otávio o olharam ao mesmo tempo.
— Eles não sobreviverão em Astralízia.
— Se ficarmos, teremos o mesmo fim.
Lídia adiantou-se fazendo com a mão um gesto para acalmar aos três.
— Posso mandá-los para bem longe daqui. ⸻ E antes que Lucas e Otávio pudessem retorquir sobre o assunto, desapareceram, deixando um vazio na alma daqueles que haviam ficado.
— Eles ficarão bem?
Lídia não respondeu a Riane e este com um sorriso, não insistiu.
— Vamos?
Theo ficou, por instantes, propenso a se beliscar e acordar daquele pesadelo, mas sabia que estava mais do que acordado. Pensou nos amigos que deixaria. No emprego que com tanto custo arranjara. Na sua vida costumeira. Tudo parecia tão confuso e difícil. Estava com medo, e sabia que não podia ficar. Olhou mais uma vez para aqueles que avançavam sem tréguas, subindo pela parede, voando ao redor, grasnando terrivelmente. Era uma situação em que ele não deixaria para trás, pois, provavelmente, em Astralízia haveria muito mais à sua espera. Engoliu em seco e com os olhos nos dois amigos, concordou.
Antes que pudesse piscar, foi varrido por um redemoinho luminoso e em segundos, encontrava-se ladeado por Riane e Lídia, em uma imensidão branca, resplandecente, uma planície maravilhosa.
— Seja bem-vindo a Astralízia.
Theo olhou a amiga, estremecendo. Era lindo e estranho, alguma coisa lhe dizia que naquela beleza toda, havia muita maldade.
— E agora? — perguntou, tentando se controlar e agir como adulto. — Que faremos?
— Vamos enfrentar Luther.
— Ganhar — completou Riane sério. — ou morrer.
Ninguém comentou aquelas palavras, ficando apenas a se entreolharem. Theo sabia que não era o único com um frio crescente em sua espinha. Todos estavam com medo, não só por eles, também pelo que se transformaria Astralízia se Luther conseguisse destruir o Iluminat. Portanto, avançaram.
O silêncio entre os três chegava a ser sufocante, não era por falta de assunto e sim, pelo receio do que os esperava mais adiante. Principalmente Theo que pouco ou quase nada conhecia da vida e dos moradores de Astralízia.  Os únicos que vira não lhe deram boa impressão. Na verdade, sentia-se apavorado, sem expectativa de sair vivo daquela confusão.
Quando seus olhos deram com a razão de estar ali, percebeu a importância de tudo que passara, não só naqueles dias, e por todos os seus vinte e dois anos. A magnifica estrutura que se erguia a frente dos três era imponente, suas torres eram diáfanas, cercada por uma aureola da mais límpida energia. Trazia uma força interior que Theo podia sentir em seu próprio coração. Lembrava-se vagamente de tê-la visto em tempos imemoriais. Entretanto, não se parecia com a que bem recordava. Sabia até mesmo o nome daquele castelo, pois era exatamente isto que ele via. Um castelo.
— Pincelat. — grunhiu como se quisesse deixar aquele nome lembrado apenas por ele. — O que aconteceu?
— Luther aconteceu.
Theo olhou Riane, vendo-lhe a raiva, a seriedade em seus olhos.
Astralízia estava cinza. Onde antes Theo via a luz da lua e das estrelas, havia apenas a escuridão. Sem falar da sensação que saia do castelo era ruim, impregnando não só as cercanias, como a própria Astralízia.
— Temos que destruí-lo.
Riane e Lídia, surpresos, o olharam. Não parecia Theo a dizer aquilo.
— Só não sei como fazê-lo...
E, sem esperar pelos dois, começou a se adiantar em direção a Pincelat.
— Mas vou descobrir um meio.

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